Pastoral Operária RS

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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A QUEM SERVIR: A DEUS OU A MAMONA ?


Valter Luiz Lara
Reflexão à luz de Mateus 6, 24.
In: Vida Pastoral, março-abril de 2010

A palavra do texto grego original não é dinheiro; mais precisamente é Mamona. O que isso significa? Por que Jesus teria usado Mamona, uma vez que essa palavra é transcrição grega de palavra aramaica para se referir a dinheiro?
Mamon, em sua forma substantiva, não é exatamente dinheiro na forma específica de moeda, como lépton, denário, assarion, dracma ou argyrion, mina ou talento. Não é palavra que serve para designar genericamente qualquer moeda ou o que mais proximamente traduziríamos como dinheiro.
Mamon é nome próprio de um dos deuses do panteão variado da cultura pagã o Oriente antigo, mais precisamente da Síria. Ele representa o culto ao dinheiro com expressão de riqueza. É o representante sírio de deus responsável pela riqueza, cujo culto tem como objetivo favorecer o enriquecimento de seus adoradores e, por conseguinte, a manutenção e reprodução do sistema comercial monetário que lhe está pressuposto.
Sendo assim, deparamos agora não apenas com o agir individual de sujeitos que devem simplesmente rejeitar esta ou aquela moeda, escolher entre o uso do dinheiro para este ou aquele determinado fim e o serviço a Deus. Afinal Jesus não está se referindo ao preço justo do trabalho que deve ser pago (normalmente em dinheiro) ao trabalhador. Em algumas parábolas , ele mesmo admitiu que devia ser pago salário justo ao trabalhador da última hora (Mt 20, 1-16). Portanto, o que está em jogo em Mt 6, 24 é a rejeição contundente de um sistema cujo deus não é Iahweh, pois não persegue a lógica da justiça distributiva e da reciprocidade de dons provenientes do trabalho, capaz de suprir igualitariamente o sustento da família, do clã e da comunidade.
O dinheiro personificado como deus Mamon representa o sistema cuja moeda governa a vida e a morte das pessoas. Na ótica de Jesus e de seus discípulos, esse deus é iníquo. Esse “Mamon-dinheiro” é dispensável. Sem ele pode-se muito bem tocar a vida segundo os princípios da dádiva e da reciprocidade distributiva: “Não leveis ouro, nem prata, nem cobre nos vossos cintos, nem alforje para o caminho,nem duas sandálias, nem cajado, pois o operário é digno do seu sustento” (Mt 10, 10). A alternativa apontada é o sistema econômico das pequenas aldeias. Sem a interferência do sistema monetário, a justiça desejada por Iahweh flui muito melhor.
Desse modo, podemos afirmar que Mt 6, 24 impõe uma escolha: o serviço de dois senhorios, de dois deuses, de duas lógicas e, por isso mesmo, de dois absolutos da vida. A linguagem é religiosa, embora o foco seja econômico. Está pressuposto pela sentença disjuntiva (ou “a” ou “b”) – a escolha de um exclui o outro. Nessa linha, Jesus segue a tradição dos profetas que criticam duramente o sistema econômico tributário e comercial em vigor nas cidades, causa do sofrimento e violência contra os pobres (Am 2, 6; 5, 11-12; Is 5, 8).
O sentido profético e profundamente atual das palavras de Jesus está no discernimento necessário que temos de fazer do sistema de produção de nossas vidas tanto do ponto de vista material como do ponto de vista ético e espiritual. Pois a miséria é um problema ético e espiritual par aos que não são miseráveis, embora para os primeiros seja um problema material de sobrevivência. O discernimento é este: como queremos organizar a economia e, com base nela, nossa vida como um todo? O nosso mundo vive em crise e ultrapassa bem mais os limites do que se chamou de crise financeira. Sem cair no lugar-comum, é preciso admitir: a crise realmente é de valores. Precisamos decidir a quem, de fato, queremos servir. A crise financeira é apenas a ponta do iceberg. Alguns dizem que saímos dela, mas a qualquer momento podemos vê-la retornar, sobretudo porque não foram corrigidas e alteradas as causas que provocam (escrevo em setembro de 2009). O fato é que os mais pobres foram afetados profundamente e os dados mostram o avanço da fome e da indigência em todo o mundo.
Neste momento, novamente temos a oportunidade de decidir se queremos servir à lógica do sistema que privilegia o mercado financeiro e o desenvolvimento completamente cego aos limites das possibilidades dos recursos naturais ou se vamos organizar novas lógicas de solidariedade cuja finalidade seja suprir, em primeiro lugar, as necessidades reais da população mais pobre do planeta. É preciso decidir logo, caso contrário, corremos o risco de escolher o deus errado, um ídolo que nos conduzirá à destruição da própria vida. O momento exige de nós, conforme Mt 6, 24, o testemunho de fé em favor do serviço ao Deus da vida. Em outras palavras, significa ter coragem de testemunhar alternativas e esperanças de outro mundo realmente é possível.

Um comentário:

  1. pode até soar estúpido, fanatismo o q erei dizer,mas, seria mamonas assassinas = dinheiro assassino? já q muitos dizem q o grupo "mamonas assassinas" se venderam para o di@bo para ter dinheiro , fama e riqueza.. isso é muito assustador, mas é real.

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